domingo, 21 de junho de 2015

E a morte veio buscar mais uma seireira!

Na tarde de quinta-feira, 18 de Junho, Ricardina da Luz Pereira Beco, natural da Beselga e a residir no Porto há mais de 50 anos, deixou-nos depois de 88 anos de vida intensa. Filha de Silvina de Jesus Serôdio e de António Maria Pereira, casaria com António Augusto Beco e, por força da profissão do marido na PSP, rumaria ao Porto. Teve oito filhos, seis vivos, que lhe nortearam toda a sua vida.

No final da década de 60, vivi, por alguns meses, em casa da tia Ricardina e pude admirar a azáfama do lar: o tio que saía para o trabalho, os filhos mais velhos a trabalharem – o João na Alfândega, a Judite no MRua, onde eu também trabalhei alguns meses.

Em casa, a Mariazinha arrumava a casa, passava a ferro e ia cuidando das mais novas sobretudo da Paulinha, a mais jovem. A Adélia, a Zeza e a Luisa andavam na Escola. A tia, incansável, fazia as compras e preparava a comida para os dez! Se havia espaços mortos, o trabalho nas camisolas ( tinha uma máquina que lhe permitia fazer bonitas malhas, para casa e sobretudo para fora) ocupavam-na até altas horas da noite no serão, enquanto nós assistíamos ao seu trabalho ( com intervenções ativas do tio, que era um expert nas tarefas mais difíceis da máquina de tricotar)  víamos televisão, ouvíamos rádio ou passávamos os olhos pelo JN do dia que o João já abandonara. Era uma vida muito complicada, mas nunca vi a tia de má cara…pelo contrário, sempre sorridente e compreensiva, mesmo para as travessuras dos mais novos.

Nunca esqueci a gratidão desta estadia no Porto. Havia uma afetividade intensa que desenvolvemos reciprocamente ao longo dos anos: muitos encontros no Porto ou na Beselga mantiveram um relacionamento muito especial nas várias circunstâncias das nossas vidas. Nem a política, em que divergíamos, nos separou, sobretudo porque a tia aparecia sempre para pôr fim aos nossos desencontros ocasionais. Muitas histórias e recordações guardo deste relacionamento.

Ultimamente, por acasos da vida complexa, os nossos encontros eram menos frequentes. E fiquei mesmo em dívida com a tia que me pedira para conhecer o meu 1º neto, filho da Paty, de quem eles tanto gostaram. Os parcos meses de vida do Bernardo foram-nos levando a adiar a ida a casa da tia! Agora, com o verão e a chegada das férias familiares, contávamos ir ver a tia que tanto considerávamos. Quando o João me deu a notícia triste da morte da tia, lembrei-me de imediato, com remorso, do último pedido que não consegui cumprir. Preferi, depois, pensar que talvez a tia tivesse dito aquilo por aquelas palavras de circunstância que, muitas vezes, se costumam dizer entre amigos. Qual quê?! Quando cheguei ao último encontro com a tia, no velório, a Dite recebeu-me com uma reprimenda afetuosa: a minha mãe disse que não cumpriste o que tinhas prometido, não lhe trouxeste o filho da Paty. Não consegui esconder as lágrimas teimosas durante toda a cerimónia. Só quando peguei na urna para  levarmos a tia para a última morada junto do tio, lhe fui explicando a impossibilidade de ter cumprido até aí o seu pedido. E creio que a tia naquela última visão, com aquele ar sereno, me perdoou! Obrigado, tia Ricardina, por todo o carinho que me dispensaste a mim, às minhas filhas, à minha esposa!

-Mário Lourenço
 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

terça-feira, 9 de junho de 2015

segunda-feira, 8 de junho de 2015