quinta-feira, 20 de outubro de 2016

E..." A MORTE SAIU À RUA"...

Neste mês de Outubro a morte tem andado pelas ruas da Beselga.
Antes do meio do mês, sob o olhar dos sinos, foi o João Cherua, ou do Germaninho. Vida atribulada a deste beselguense. Nos finais da década de 50, lembro-me de ir, com a minha tia Judite e com meu avô, aos bailes na casa do sr Germaninho, no Vale e ouvir a arte admirável do tocador de "banjo". Emigrara e corria-lhe a vida de feição por terras de França. Viria a constituir família, vivia nas casas já desaparecidas em frente à porta lateral da Igreja. Teve um acidente de trabalho e veio para a Beselga. Foi alfaiate, procurou a cura para as suas vistas (quase cegara nesse acidente em França) e, em 67, creio, viria a abrir uma taberna na casa em que agora vivia. Com a esposa e com a sogra, a Dalinda do Paulo, deixava-nos ficar a ver os programas de televisão depois de encerrar ao público. Recordo-me de vermos o "Joselito" e, sobretudo, um programa inesquecível com o Raul Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz - Zip Zip!
Em fins de 1970 ou inícios de 71 morre a esposa ainda bastante jovem que deixava dois filhos, o Jorge e a Maria Augusta. Escrevi-lhe nessa altura uma carta de França onde eu trabalhava, expressando a mágoa pela trágica notícia.
Depois de vir de França, em finais de 71, frequentei a taberna do João. Falamos de muita coisa, mas queria aqui testemunhar o apoio que me deu na procura de um terreno para fazermos um novo campo de futebol. Foi ele que nos falou num terreno que trazia o Belarmino e que pertencia à Casa das Brolhas. Chegámos mesmo a ser recebidos na Casa das Brolhas à entrada de Lamego. Foi o sr Miguel Caseirinho de Penedono, representante da dita senhora, que desaconselhou a dona a não nos ceder o terreno do Freixo. Em 25 de Março de 1975, o João esteve connosco na criação e legalização da Associação.
A dificuldade na visão foi-o deixando menos interventivo. Nunca perdeu a arte de tocar o sino, rivalizando com o vizinho, sr Antoninho do Manel da Cruz, ou com o Alberto Francês.
Quatro décadas e meia depois da esposa, o João fecha a casa e deixa aquele banco de cimento em que se espiava a atividade da aldeia seireira. Paz à sua alma.

Esta semana caiu-nos também a notícia da morte do sr. Calisto Teixeira e da srª Cândida. Dois emigrantes da nossa aldeia também em França. Às famílias enlutadas as nossas sentidas condolências. 
-Mário Lourenço

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