sábado, 24 de dezembro de 2011

FERNANDO PAIXÃO, POETA BESELGUENSE...

Por : Mário Lourenço

Procurando, há dias na internet, sítios que se referissem à Beselga, apareceu-me o poeta Fernando Paixão. Nasceu na Beselga em 1955 e emigrou para o Brasil, S. Paulo, em 1961 na companhia do pai, João de Deus, e da mãe, Maria do Carmo. Formou-se em Jornalismo e defendeu tese sobre Mário de Sá Carneiro.
Publicou Rosa dos Rumos, O Que É Poesia, Fogo dos Rios, 25 Azulejos, Poesia a Gente Inventa, Poeira. Com este último volume venceu em 2001 o Prémio de Poesia concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Aqui ficam alguns poemas de um dos seus livros, enquanto esperamos mais notícias deste nosso ilustre conterrâneo.




A lua é da noite
A lua é da noite
Os peixes das águas
Só as palavras são
do homem.
Vagas que preenchem
O declive dos vazios.

Fosse Rio
Fosse rio
abraçaria o mar.
Fosse mar
abraçaria o ar.
Fosse ar
abraçaria o fogo.
Seria então
Todo.

Breve minha alma
Breve minha alma
há-de ser água
e essa água
terra.
Como um dia veio
da terra
a água da minha
alma.

Vêm da Terra os Legumes
Vêm da Terra os Legumes
Morrer no silêncio da sopa
Incendeiam sabores
na língua
E iluminam trevas
Na boca.



Descobri a morte aos poucos

Descobri a morte aos poucos
Imagens que ceifam como foices
Repentinos amanheceres
Torcidas árvores
E frutas podres.
Fui provando
Seus sabores.


Não se Revê a Imagem

Não se revê a imagem
do espelho
na mesma lâmina.
Não se vê a mulher
duas vezes
com o mesmo espanto.
Não se vê o outro
em si próprio:
à procura do mesmo.


In Fogo dos rios. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

ILUMINAÇÃO NATALÍCIA NA BESELGA

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

UM ARTIGO SOBRE O NOSSO JOGO EM VILA MAIOR


Vitória da equipa de Vila Maior, onde se superiorizou frente a um Ceireiros atrevido, que entrou com disposição de fazer boa figura.
O único golo da partida nasce quando estavam decorridos 52 minutos do 2º tempo, Patrick, com um bom cruzamento, envia a bola para a área do Ceireiros onde o jogador Tiago Almeida surge para encostar o esférico para o fundo da baliza forasteira.
O Vila Maior tem, de facto, as melhores chances de golo, mas a pontaria nunca teve assertiva, num jogo em que uma vez mais teve o meio-campo como núcleo duro.
A equipa da Beselga, bem se pode queixar da arbitragem, uma vez que ficam por assinalar 2 penaltis, a favor da equipa Beselguense. O Ceireiros, foi sempre um adversário bem composto a nível táctico, dificultando assim, a vida da equipa de Vila Maior, que teve um apoio extra, para este jogo, da claque organizada "Internacionais Líder".

Autoria: adepto vilamaiorense

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

RETRATOS CEIREIROS / O Empresário

Diamantino Ramos é o nome do mais importante empresário da Beselga durante o século xx : o armazém, a garagem, a fábrica de laranjadas e pirolitos, as camionetas que eram tão familiares à aldeia, como as viagens para o Porto, Montalegre, Ovar, Aveiro...
Também a história dos transportes da aldeia tem que incluir o seu nome. Depois da camioneta de passageiros que ainda vimos desfazer-se no “museu de ar livre” mesmo junto do recinto da escola primária, na década de sessenta, passam-nos pela memória não só o Volvo ( cujo buzinar o Fernando do Chico dizia reconhecer às sextas-feiras, nas imediações das Antas, quando vinha da feira de Trancoso...), o Wolkswagen, o Renault 16, mas também a Desoto, a Bedford, a Scania...
Como empregador, além dos condutores ( Joaquim Choufer, João Lacerda, Neca, Zé Choufer...), havia os ajudantes (Zé Farrejola, João Moleiro, Toninho Gaitas, João Monteiro...). Mas a fábrica de laranjadas e pirolitos dava emprego a mais de uma dezena de mulheres que lavavam as garrafas, embalavam, rotulavam e verificavam a qualidade...
Depois do encerramento da fábrica de laranjadas e pirolitos (ao que parece devido à falta de qualidade da água que nascia nas imediações do Cemitério) adaptou a Garagem para armazém de vinhos . Foi a fase então de comprar mais intensamente vinhos na região que vendia especialmente na zona do Porto.
Também através dele nos chegavam as notícias. “O PRIMEIRO DE JANEIRO” era recebido diariamente e, nas suas páginas, víamos as notícias do mundo.
O sr. Diamantino fica também ligado aos ceireiros. O transporte das grandes quantidades de junça passou a ser feito pelas suas camionetas em substituição dos carros de bois. E quantas vezes transportou fardos de tapetes para as estações da CP, ou para os capacheiros que andavam espalhados por Campanhã, Trofa, Santo Tirso... Era o elo de ligação entre a aldeia e esses emigrantes ceireiros que se perdiam por Portugal a mourejar o pão. Convívios, notícias, ajudas, boleias... tanta história que fica por contar... Que diriam sobre ele “O Veneno”, o Ti’Avelino, os Portelas, o “Ceroilas”, o Finote, o Silvério Coelho e quantos, quantos mais...
Na política também marcou o seu lugar. Ao lado do regime, como convinha ao empresário, teve algumas posições oposicionistas (pelo menos a nível local) , na década de sessenta, por razões que desconheço.
Viria a colaborar com a malta nova, depois do 25 de Abril, na Associação Humanitária Cultural e Recreativa Beselguense. Foi um dos principais dirigentes enquanto disputámos o Campeonato do INATEL. Todos nos recordamos dos episódios caricatos vividos em Valdigem e o seu peixeiro, ou da inversão de marcha que a camioneta teve de fazer na estrada estreita depois de Armamar junto aos socalcos durienses com um precipício à vista que era de arrepiar. Fica ligado aos peditórios que se fizeram para conseguirmos construir o novo campo de jogos, depois de convencermos as herdeiras a serem a favor do campo de futebol. Viria a falecer num fim de Março depois de uma longa vida. Honremos a sua memória.
- Mário Lourenço

BESELGA À NOITE

CEIREIROS 1 - NESPREIRA 2


CEIREIROS 0 - VISEU E BENFICA 2 (Taça de Viseu)


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

RETRATOS CEIREIROS / Zé João

O Zé João morava ao pé do quintal da Donana. Desde pequeno cultivou uma imagem rebelde. Tinha gosto em ser diferente. E até era canhoto, ao contrário da maioria. No adro de baixo, à tarde, antes da hora da carreira, divertia-nos com as suas malandrices e piruetas na bicicleta: parado em equilíbrio, só numa roda, de pé no selim, andar sem mãos...
Quando cresceu um bocadinho, tornou-se virtuoso na arte do drible e instalou-se na equipa de futebol. Franzino, rápido, esgueirava-se pela extrema esquerda, com arte. Muitos golos marcou e deu a marcar. Guardo ainda na memória, entre outras, as exibições, coroadas com golos, no ASA de Nespereira, Figueiredo das Donas, Lafões e, aqui na Beselga, no jogo contra Aregos, debaixo dum gélido granizo... Na Associação foi membro dos Corpos Gerentes e creio que foi mesmo o último a cobrar as quotas aos sócios: entregou-me uma lista com 53 nomes de sócios que lhe haviam acabado de pagar as quotas, antes da saída daquele nº3 da 2ª série de “Mensagem da Aldeia” em Dezembro de 1981...
Acompanhei-o de perto aquando do estágio em Penedono. Fizemos viagens juntos para o emprego em Sernancelhe. Separámo-nos quando foi trabalhar para Trancoso e eu fui para Viseu. Sabia que conservava o feitio rebelde, parecendo irritado quase sem haver razão para tal. Mas no fundo, havia um poço de bondade, de solidariedade, de altruísmo.
Um telefonema brusco deu-me a notícia : um despiste na ponte nova de Ranhados. Um despiste?! Ele que sabia tudo de mecânica, velocidades, cilindrada, estabilidade...Onde estava a sua perícia?...Desistência da vida?...
Encontrei-o na cama do Hospital em Coimbra, respirando ruidosamente...Interpelei-o por várias vezes. Os seus olhos não me fixavam, olhavam em vão... Ao lado, a mãe, banhada em lágrimas, construía uma moldura de “pietá”. E que sofrimento o desta mãe! E o Zé João continuava a desobedecer-lhe... e quis morrer na idade mais bonita da vida.
Com a sua trágica morte , desapareceu aquela imagem ceireira de ar sorridente (mas de ar sarcástico e certeiro) nas voltas ao povo, na Associação, no futebol, nos cafés, no quintal, na pesca, nas conversas...
- Mário Lourenço

domingo, 27 de novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

terça-feira, 22 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

RETRATOS CEIREIROS / A filha do Nico

Passaram mais de vinte anos. Trinta!.... Já nem me recordo ao certo.
- Já ontem fui a Penedono, mas o sr. Dr. Tito está para uma reunião para Lamego. A rapariguita nem foi trabalhar connosco, ficou a fazer a comida, doía-lhe muito a barriga. De noite chorava que nem uma Madalena...Eram cinco da manhã e botei-me ao caminho até Sernancelhe. Igual, o médico também está para a reunião de Lamego. Valha-me, por alma de quem lá tem! Já fui ao sr Francelino alugar o táxi, mas está para Lisboa... Tenha dó da minha menina!...
Quem poderia não ter dó, ao ver o pai esfarrapado de dor, envergonhado de não poder esconder uma catadupa de lágrimas desobedientes?...
O Inverno tinha sido rigoroso e o caminho da barragem estava uma lástima, mas pior estava o nosso íntimo depois deste choro convulsivo de um pai lavado em lágrimas…Por meio de charcos e fragas, patinando aqui, fugindo para a berma ali, lá fomos.... Ali raspava o motor, depois deslizava o carro para a valeta...Enfim, pelo velho caminho de Penedono lá chegámos junto à barragem.
O Nico lá assobiou com o seu hábito de pastor. Depois um berro desesperado ecoou no paredão da barragem. Ao longe, junto da quinta, dois vultos desciam a escarpa. A tia Germânia Coelho trazia a menina embrulhada no cobertor. Um leve rumor soltava-se a custo da miudita. Tentei ser o mais veloz que pude pelo lamaçal que nos impedia a marcha. À entrada da aldeia, a srª Aninhas do Miguel espiolhou para dentro do cobertor e gritou de pavor: “Está a acabar a pobrezinha, vão depressa!” Redobraram os gritos de dor. Turvava-se-me a vista, não sei se das lágrimas, se das grossas pingas de chuva que caíam sobre o vidro do carro.
Chegámos ao Hospital de Trancoso. Respirei de alívio. Corremos para o médico... mas a tragédia consumava-se: - “Um cadáver? Trazem-me um cadáver?!...” Um misto de revolta, amargura e dor invadiram-nos o rosto. A menina acabara de morrer.
O médico lavava as suas mãos. O pai banhado em lágrimas explicava os passos que dera, os médicos que não encontrara, os transportes difíceis...Maldita apendicite!
Como tinha morrido a filha, era proibido levá-la. O Nico não sabia que fazer.
- Oh sr. doutor, eu sou um desgraçado quintaneiro, não tenho dinheiro para funerárias...deixe-me levar a minha filhinha!...
- Eu não vi a sua filha, faça o que quiser...
E lá partimos para a Beselga. Para o funeral não podia levar a menina para a quinta. Na aldeia, só a casa dos Coelhos tão humilde... “Se ma levasse a Riodades, tenho lá a minha irmã...” A voz rude daquele pai trazia tanta amargura, tanta tristeza que esqueci as legalidades e fomos levá-la a casa da tia em Riodades.
E o homem, depois de procurar a irmã pela aldeia, aberta a casa, lá colocou a sua filha para, enfim, descansar desta vida injusta e cruel...

- Mário Lourenço