segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

RETRATOS CEIREIROS / O Empresário

Diamantino Ramos é o nome do mais importante empresário da Beselga durante o século xx : o armazém, a garagem, a fábrica de laranjadas e pirolitos, as camionetas que eram tão familiares à aldeia, como as viagens para o Porto, Montalegre, Ovar, Aveiro...
Também a história dos transportes da aldeia tem que incluir o seu nome. Depois da camioneta de passageiros que ainda vimos desfazer-se no “museu de ar livre” mesmo junto do recinto da escola primária, na década de sessenta, passam-nos pela memória não só o Volvo ( cujo buzinar o Fernando do Chico dizia reconhecer às sextas-feiras, nas imediações das Antas, quando vinha da feira de Trancoso...), o Wolkswagen, o Renault 16, mas também a Desoto, a Bedford, a Scania...
Como empregador, além dos condutores ( Joaquim Choufer, João Lacerda, Neca, Zé Choufer...), havia os ajudantes (Zé Farrejola, João Moleiro, Toninho Gaitas, João Monteiro...). Mas a fábrica de laranjadas e pirolitos dava emprego a mais de uma dezena de mulheres que lavavam as garrafas, embalavam, rotulavam e verificavam a qualidade...
Depois do encerramento da fábrica de laranjadas e pirolitos (ao que parece devido à falta de qualidade da água que nascia nas imediações do Cemitério) adaptou a Garagem para armazém de vinhos . Foi a fase então de comprar mais intensamente vinhos na região que vendia especialmente na zona do Porto.
Também através dele nos chegavam as notícias. “O PRIMEIRO DE JANEIRO” era recebido diariamente e, nas suas páginas, víamos as notícias do mundo.
O sr. Diamantino fica também ligado aos ceireiros. O transporte das grandes quantidades de junça passou a ser feito pelas suas camionetas em substituição dos carros de bois. E quantas vezes transportou fardos de tapetes para as estações da CP, ou para os capacheiros que andavam espalhados por Campanhã, Trofa, Santo Tirso... Era o elo de ligação entre a aldeia e esses emigrantes ceireiros que se perdiam por Portugal a mourejar o pão. Convívios, notícias, ajudas, boleias... tanta história que fica por contar... Que diriam sobre ele “O Veneno”, o Ti’Avelino, os Portelas, o “Ceroilas”, o Finote, o Silvério Coelho e quantos, quantos mais...
Na política também marcou o seu lugar. Ao lado do regime, como convinha ao empresário, teve algumas posições oposicionistas (pelo menos a nível local) , na década de sessenta, por razões que desconheço.
Viria a colaborar com a malta nova, depois do 25 de Abril, na Associação Humanitária Cultural e Recreativa Beselguense. Foi um dos principais dirigentes enquanto disputámos o Campeonato do INATEL. Todos nos recordamos dos episódios caricatos vividos em Valdigem e o seu peixeiro, ou da inversão de marcha que a camioneta teve de fazer na estrada estreita depois de Armamar junto aos socalcos durienses com um precipício à vista que era de arrepiar. Fica ligado aos peditórios que se fizeram para conseguirmos construir o novo campo de jogos, depois de convencermos as herdeiras a serem a favor do campo de futebol. Viria a falecer num fim de Março depois de uma longa vida. Honremos a sua memória.
- Mário Lourenço

Sem comentários: