segunda-feira, 30 de junho de 2014


Dia de S. Pedro em Penedono...


Era uma das festas mais importantes da nossa região. Toda a aldeia suspendia a atividade agrícola ou artesanal para ir a Penadono. A feira, mais que romaria, trazia os primeiros frutos e servia para prover os agricultores com os chapéus de palha, ou outros artefactos necessários ao Verão inclemente.

Meu pai, como natural da vila, não podia faltar à sua festa. E fazíamos a romaria às casas dos irmãos. O tio João da Agueira e a tia Hirmina acolhiam-nos logo pela manhã. Mas íamos à taberna do Tio Mário, à pensão da sua irmã, a Tia Céu, passávamos por casa da avó Albina, ali  a seguir ao Luís do Fausto, quase sempre a fazer companhia à Tia Carmo ( com o Valentim e a Joaquina)… e, depois de visitar o Luís Martins onde o meu pai encontrava os amigos de infância, terminávamos na casa da Tia Micas que chegara da feira com a carrada de caixas dos sapatos e que, muitas vezes, nos levava de regresso à Beselga na sua carrinha nova, a Opel Olímpia.

No início da década de 70, vivi a sós com o meu pai, um ano de emigrante, em Chartres. Foi um ano de muito trabalho, mas a sua boa disposição irradiava, sobretudo quando encontrava emigrantes da nossa terra  - o Zé David e o pai, o Manuel e o Tónio Bernardo, o João do Satiro, o João Quirino, os primos Cachinhos de Orgères…

Todos os dias, nesse mês de Junho, fazíamos horas extraordinárias que mais que nos duplicavam o ordenado…Fazíamo-lo com gosto para ajudarmos a numerosa família que tínhamos em Portugal… Mas o dia 29, dia de S. Pedro, ouvi-lhe arrancar vários ais e, à socapa, disfarçando limpar as bagas de suor, empurrava algumas lágrimas teimosas…


Há dois anos, o meu pai faltou à festa da sua terra. Jazia numa cama do IPO em Coimbra. Bem nos implorara para o trazermos nesses longos dias de sofrimento. A minha romaria, nesse mês de Junho de 2012, era visitá-lo em Coimbra, tentando dar-lhe alguma esperança. E nessa tarde de dia de S. Pedro estive com ele até ao final das visitas. Estava medicado e sem grande reação. Talvez zangado por não ter vindo ao S. Pedro. E tão revoltado estaria que, nessa noite, desistiu de combater a maldita doença e regressou, enfim, para a sua última morada…

Hoje foi dia de S. Pedro… E estas lembranças empurraram-me as palavras de homenagem a um humilde e diligente penedonense, nascido na Quinta da Agueira…

- Mário Lourenço

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