Dia
de S. Pedro em Penedono...
Era uma das
festas mais importantes da nossa região. Toda a aldeia suspendia a atividade
agrícola ou artesanal para ir a Penadono.
A feira, mais que romaria, trazia os primeiros frutos e servia para prover os
agricultores com os chapéus de palha, ou outros artefactos necessários ao Verão
inclemente.
Meu pai,
como natural da vila, não podia faltar à sua festa. E fazíamos a romaria às
casas dos irmãos. O tio João da Agueira e a tia Hirmina acolhiam-nos logo pela
manhã. Mas íamos à taberna do Tio Mário, à pensão da sua irmã, a Tia Céu,
passávamos por casa da avó Albina, ali a
seguir ao Luís do Fausto, quase sempre a fazer companhia à Tia Carmo ( com o
Valentim e a Joaquina)… e, depois de visitar o Luís Martins onde o meu pai
encontrava os amigos de infância, terminávamos na casa da Tia Micas que chegara
da feira com a carrada de caixas dos sapatos e que, muitas vezes, nos levava de
regresso à Beselga na sua carrinha nova, a Opel Olímpia.
No início
da década de 70, vivi a sós com o meu pai, um ano de emigrante, em Chartres.
Foi um ano de muito trabalho, mas a sua boa disposição irradiava, sobretudo
quando encontrava emigrantes da nossa terra - o Zé David e o pai, o Manuel e o Tónio
Bernardo, o João do Satiro, o João Quirino, os primos Cachinhos de Orgères…
Todos os
dias, nesse mês de Junho, fazíamos horas extraordinárias que mais que nos
duplicavam o ordenado…Fazíamo-lo com gosto para ajudarmos a numerosa família
que tínhamos em Portugal… Mas o dia 29, dia de S. Pedro, ouvi-lhe arrancar
vários ais e, à socapa, disfarçando limpar as bagas de suor, empurrava algumas
lágrimas teimosas…
Há dois
anos, o meu pai faltou à festa da sua terra. Jazia numa cama do IPO em Coimbra.
Bem nos implorara para o trazermos nesses longos dias de sofrimento. A minha
romaria, nesse mês de Junho de 2012, era visitá-lo em Coimbra, tentando dar-lhe
alguma esperança. E nessa tarde de dia de S. Pedro estive com ele até ao final
das visitas. Estava medicado e sem grande reação. Talvez zangado por não ter
vindo ao S. Pedro. E tão revoltado estaria que, nessa noite, desistiu de
combater a maldita doença e regressou, enfim, para a sua última morada…
Hoje foi
dia de S. Pedro… E estas lembranças empurraram-me as palavras de homenagem a um
humilde e diligente penedonense, nascido na Quinta da Agueira…
-
Mário Lourenço
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