quarta-feira, 8 de junho de 2011

RETRATOS CEIREIROS ANTÓNIO AUGUSTO BECO


Desapareceu do mundo dos vivos, há dias, um dos beselguenses que, como tantos ceireiros, teve de viver grande parte da sua vida fora da aldeia. No entanto, nas últimas três décadas manteve uma presença contínua nos jornais da nossa região – Mensagem da Aldeia, Boletim Municipal, Progresso de Penedono. Escreveu mesmo três livrinhos, dois deles dedicados totalmente à Beselga: Divino Senhor dos Passos – História Pequenina mas Fascinante e Crónicas da Minha Terra.
Em meados do século passado, fixou-se no Porto por ter abraçado como profissional a PSP. Aí viu crescer a sua família com sete filhos. E lá sofreu o grande golpe da morte da sua filha mais nova num acidente brutal. Morou na Areosa, no Cerco do Porto e, mais tarde, em São Cosme- Gondomar.
Tive oportunidade de partilhar a sua casa por várias vezes, mas, de um modo contínuo, nos meses de Fevereiro e Março dos finais da década de sessenta, enquanto trabalhei na casa de um ilustre penedonense António M. Rua. Tive o prazer, assim, de conhecer toda a sua família a quem ficaria sempre ligado por relações privilegiadas de amizade.
Homem de uma prodigiosa memória, depressa me cativou com as suas recordações da juventude passada na Beselga. Influenciou-me decisivamente nas minhas investigações sobre a história local. Mais tarde, considerei imprescindível a sua colaboração no jornalismo local e correspondeu com os melhores artigos sobre as nossas raízes ceireiras. Homem de ideias rígidas e desassombradas, ganhou algumas incompreensões que, por vezes, o fizeram interromper a sua colaboração. O amor à nossa terra, depressa, o volviam ao nosso convívio.
Depois de alguns meses de doença veio a falecer antes de completar os 89anos. O seu funeral foi aproveitado pelos filhos e netos para lhe prestar homenagem, lendo os textos sagrados e pronunciando um sentido e sintético testemunho de gratidão pelos ideais de vida que sempre lhes transmitiu.
Muitos familiares trouxeram-lhe a aldeia que tanto amava, a esta última homenagem. Tive a honra de ajudar a levá-lo até à sua última morada. E sei que ficará a descansar em paz depois desta afectuosa e sentida despedida daqueles que mais o amavam.
Algumas pessoas da Beselga chegaram a sugerir que uma bandeira da Associação Beselguense se fizesse representar nesta última homenagem ao seu dedicado associado. Hoje, verifiquei, ao ler, no último jornal, que nem uma palavra foi proferida pela direcção, nas páginas que ele tanto ajudou a enriquecer . Por isso, aproveito para enviar este testemunho. Lamento a perda irreparável da sua memória e, para que possamos recordar para sempre os seus depoimentos, à parte, segue o conjunto de crónicas que ele foi fazendo e que me confiou, para poderem ser arquivadas neste blog ceireiro, que o Paulo Leitão, em boa hora, se lembrou de dinamizar. Será uma bela homenagem facultar a leitura das suas palavras a todos os vindouros.

-Mário Lourenço

2 comentários:

Márcio Béco disse...

obrigada pelo artigo
Adélia Béco

João disse...

Foi mais que justo o teu artigo. Obrigado Mário