“Quentes e boas – Boas e quentes” são as castanhas de Penedono e Sernancelhe. Esta última localidade tem como
slogan “Sernancelhe – capital da castanha”. Um dia referi este slogan, junto do
Dr. Rui Bastos, ex Presidente da Casa do Concelho de Penedono. Ele respondeu-me
imediatamente – “mas as castanhas de Penedono são melhores”.
Penedono e Sernancelhe (concelhos do
Douro Sul, distrito de Viseu) têm a particularidade de produzir, provavelmente as
castanhas mais doces e saborosas de Portugal e do mundo.
A par deste galardão, os dois concelhos
do interior têm um património apreciável. Deixo aqui apenas umas ligeiras
referências de nomes de família e de monumentos históricos.
Consta que Penedono é berço do “Magriço”
– Álvaro Gonçalves Coutinho. Esta figura da História terá nascido num primitivo
palácio da família Fonseca Coutinhos (1)
ou no castelo da mesma vila, de que seu pai Gonçalo Vasques Coutinho foi alcaide,
bem como do castelo de Trancoso, localidade a que pertenceu Penedono e que
também reivindica o nascimento de Magriço.
O
Magriço deu origem à denominação dos bravos jogadores que em 1966 disputaram o campeonato
de futebol mundial em Inglaterra, obtendo para Portugal o melhor resultado de
sempre (3º lugar), nesta modalidade. O mesmo Magriço, também conhecido como o
“Capitão dos Doze de Inglaterra” vem referido nos Lusíadas de Luís de Camões, canto
I - estrofe 12:
«Por
estes vos darei um Nuno fero / Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço / Um Egas
e um Dom Fuas, que de Homero / A cítara para eles só cobiço / Pois pelos Doze
Pares dar-vos quero / Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço / Dou-vos
também aquele ilustre Gama / Que para si Eneias toma a fama ».
No
canto VI – estrofes 38 a 41 faz-se a preparação para o episódio Magriço/Doze de
Inglaterra e mais concretamente nas estrofes 42 a 69, Camões desenvolve o feito cavalheiresco com
referências ao Magriço de que citamos a estrofe 53, como exemplo:
«Já
do seu rei tomado têm licença / Para partir do Douro celebrado / Aqueles que
escolhidos por sentença / Foram do Duque Inglês experimentado / Não há na
companhia diferença / De cavaleiro, destro ou esforçado / Mas um só, que Magriço
se dizia / Destarte fala à companhia [...] »
(sublinhados nossos)
Quanto a Sernancelhe, destaco a sua
igreja matriz, templo românico, que conta com uma publicação recente da autoria
do monsenhor Cândido Azevedo. Sernancelhe (concelho) é também a terra que viu
nascer o escritor Aquilino Ribeiro, que conta com um cenotáfio em sua memória no
panteão nacional de Santa Clara – Lisboa.
Natural do concelho de Sernancelhe será,
também, o missionário, comerciante, diplomata, político e historiador – João
Rodrigues (o tçuzzu em japonês ou intérprete, em português), autor da primeira
Gramática da Língua Japonesa e História da Igreja no Japão.
Na imagem anexa pode ver-se a medalha
com a figura do castelo de Penedono, editada por altura do V aniversário da
Casa do Concelho. O recipiente é uma cestinha de artesanato local da freguesia
da Beselga – Penedono, feita de junça, um tipo específico de palha colhida no
planalto e serras de Trancoso. Nesta vila histórica – medieval casou o rei D.
Dinis com a raínha D. Isabel de Aragão (a raínha santa, filha de D. Pedro de
Aragão e de D. Constança).
Esta micro-região de Sernancelhe,
Penedono e Trancoso faz parte da “Beiraltíssima” como lhe chamou o prof. José
Hermano Saraiva. A festa anual da castanha
em Sernancelhe tem lugar na vila durante três dias nos finais de Outubro.
Também na Casa de Penedono, em Lisboa ou Almada realiza-se uma festa/convívio,
com castanhas, vinho e animação, por volta do dia de São Martinho no mês de
Novembro.
A gastronomia da micro-região
Beiraltíssima, também conhecida por Terras do Demo ou de Magriço é excelente,
motivo para uma visita. Durante o Outono encontrará castanhas de qualidade
impar e poderá apreciar os ares puros, bem como os patrimónios: natural,
artesanal, edificado e imaterial.
(1) Segundo
o Dr. Artur Lambert da Fonseca que realizou uma genealogia e se
considera descendente dos antepassados de Álvaro Gonçalves Coutinho “O Magriço”, genealogia que eu próprio vi em sua casa de
Fonte Arcada - Penafiel; os Coutinhos antes de entrarem no Couto de Leomil,
Penedono e Trancoso, teriam como apelido o patronímico de Fonseca. Há, porém, quem alegue que o patronímico era
Rodrigues.
Fontes:
- Os Lusíadas / Luís de Camões, José
Hermano Saraiva, José António Lima e Henrique Monteiro. Edição Expesso, com o
apoio do Grupo Totta, em 10 volumes, [Lisboa]: 2003, Trata-se de uma obra com descrição
em português actual. Nela consta o episódio de O Magriço e Os Doze de
Inglaterra nos cantos e estrofes acima referidos.
- Camões. Os Doze de Inglaterra.
Episódio do Canto VI de Os Lusíadas. Paráfrase, Ilustrações e Estudo do Torneio
Medieval / Luís de Camões, Jorge Tavares. Porto: Lello & Irmão - Editores, 1985.
- O Magriço, Bandarra e Trancoso in http://bandarra-bandurra.blogspot.pt/2011/08/magrico-nasceu-em-trancoso.html?showComment=1351444468247, acedido em 28.10.2012
Alfredo Ramos Anciães – Novembro de
2012
Sem comentários:
Enviar um comentário