sábado, 13 de dezembro de 2014

MORREU UM CEIREIRO NO BRASIL


Morreu o tio Alberto
Saíu da Beselga na década de 50. Casado com a Tia Albertina  do Tónio d´Adelaide, procurou no Brasil o sustento para a família. A Ginita, a Bina, o Valente e o Toni eram os filhos que ajudou a crescer em S. Paulo. Contava que abriu o estabelecimento de comércio nessa cidade que, dizia, pouco maior era que Viseu,  há cerca de sessenta anos.
Conheci o tio Alberto, de que tanto se falava, na velha e longa varanda de madeira da casa de meu avô. Ele passeava nos  bons vinte metros , num vai e vem sereno e calmo. Pequeno, era o final da década de sessenta, ele nem me via apesar dos meus catorze anos. Quando se voltou tive um choque… era meu avô que ali estava, tais as parecenças com seu pai há pouco falecido!  A mesma calvície, os mesmos cabelos restantes bem encarreirados, os mesmos olhos, um pouco mais forte, a mesma altura e o esgar sorridente tão igual ao do meu avô! Acordou-me desta meditação com um sotaque tão doce que eu só voltei a sentir com a chegada da  famosa “Gabriela” que nos apaixonou seis anos mais tarde na televisão ainda a preto e branco.
Facilmente extravasou a sua bondade. E começaram, com ele, as melhores férias de sempre. Fomos ao mercado de Penedono, Sernancelhe, Trancoso, à Lapa  e Vila Nova de Paiva. Foi comigo fazer a matrícula no Colégio de Sernancelhe. Fomos a Fátima, a Aveiro. Pela primeira vez conheci Coimbra, a Universidade em que, mais tarde, me viria a formar.  
A tia Albertina contava que também ele fora um bom atleta: de bicicleta, quando iam à feira a Trancoso, só ele e o Manel Brasileiro subiam a  com as mulheres atrás, no suporte, sem se descerem. Saía ao pai “Pincha Cavalos” animador do mercado de Penedono, como contava a tia Hirmínia, que o via pular do chão com a égua a girar em círculo e, montado sobre um dos animais saltava em andamento para outro que seguia ao lado. E vi o tio Alberto ouvir deliciado estas peripécias  em Penedono. Como também aquela história em que o avô, na Santa Eufêmia, saltou sobre um mar de gente para fugir à GNR que o queria prender por não ter comparecido na tropa na data marcada… E em Chosendo,  de onde se voltou a libertar da GNR em casa da irmã Elvira, nós revivemos essa patifaria que ele fez aos homens da Guarda.
O tio Alberto voltou ainda e sempre com a mesma ternura. Depois veio a Ginita que aqui nascera e que, parece, adivinhava que  a vida iria ser cruel e breve. Fui buscá-la  e levá-la ao aeroporto em Lisboa, umas vezes com o táxi do Francelino, enquanto aí estudei na Faculdade de Direito, outras vezes já com o meu carro. Mais tarde veio a Bina que tantas lágrimas de saudade chorava pelos que haviam ficado no Brasil. E em todos eles eu via o tio Alberto. Hoje ao saber da notícia da morte, fui eu, Bina, que não retive umas lágrimas impulsivas e desobedientes que me turvaram o olhar incessantemente. Queria  ter dado um último abraço ao Tio Alberto. Um beijo e abraço para todos vocês, nesta hora de dor.
-Mário Lourenço

1 comentário:

Alfredo Ramos Anciães disse...

Caríssimo Amigo Mário,

Os meus sinceros sentimentos pela perda.

Um abraço.

BOM NATAL