quarta-feira, 3 de agosto de 2011

MEMÓRIAS QUE SE VÃO PERDENDO

O progresso tem modificado muito a Beselga.
No Adro de Cima havia duas árvores enormes que eram nossas companheiras de brincadeira. Sob o seu manto protector, aí se jogava ao pateiro, ao “salto e vão” ou, ao cimo das escaleiras da casa (onde nasci) em frente da sacristia, sobretudo quando chovia, ao “salto e mula”. Foram abatidas não sei por que razão. Talvez à procura das garrafas de moedas que o Zé Mário do Rolo dizia terem sido colocadas junto à raiz, no momento em que haviam sido plantadas. Hoje tentam-se réplicas, mas parecem estar amaldiçoadas ou seca ou crescem pouco, devagar.
Ladeando as escadas da casa do lado da porta principal da Igreja, onde com frequência se “arrematava” a poia, vêem-se os sulcos de duas letras cavadas no granito “DE” “V(niversitate)” (aos pés do arrematador). Hoje a casa está em reconstrução. Esperemos que as letras fiquem no sítio em que estão.
Essas letras apareciam repetidas no Adro de Baixo junto à cancela que dava acesso ao Chão da Igreja, uma de cada lado junto do chafariz e do cruzeiro. Sem dúvida são testemunhos da ligação que esta Paróquia de Santa Cruz de Beselga teve à Universidade de Coimbra (e possivelmente ao Mosteiro de Santa Cruz). Estas pedras devem (deviam) ser integradas nas construções porque são documentos históricos que enriquecem as novas construções dando-lhe um cunho de nobreza. Também nos Lameirões há um marco com idênticas siglas próximo da estrada.
No início da década de sessenta , vi como um turista francês ficou impressionado porque encontrou próximo da casa do Sr Basílio, a seguir ao Oitão, na Rua da Devesa, uma inscrição com data anterior à Revolução Francesa(1789). Também essa pedra desapareceu, certamente trabalhada para aparentar nova cara.
Perto do campo de futebol de cinco, na parede da Vinha, em frente da entrada da antiga Escola Primária, ainda existe uma pedra trabalhada que marca uma das estações onde se parava para rezar, quando a procissão descia do Calvário. Esperemos que não desapareça.
Outras memórias há pelas ruas da nossa aldeia. Nesta era de modernidade, faça-se um esforço para conservar o que resta – a memória do passado enriquece o presente e o futuro.

- Mário Lourenço

4 comentários:

Alfredo Ramos Anciães disse...

Olá caríssimo.

Sem dúvida essas marcas devem ser preservadas e a divulgação das mesmas e do seu valor patrimonial ajudam.

Abraço e um bom Verão.

Alfredo Ramos Anciães disse...

Olá caríssimo

Sem dúvida essas marcas devem ser preservadas e a divulgação das mesmas e do seu valor patrimonial ajudam.

Abraço.

Alfredo Ramos Anciães disse...

Volto para reconhecer e agradecer (enquanto co-mordomo em 2011) o trabalho e agradável disponibilidade do José Gaitas nessa "função social" que é a de arrematar os bens que servirão de apoio à festa. Concerteza o Senhor dos Passos também terá essa boa vontade em consideração.
Um abraço ao José Gaitas e a todos que visitem este espaço. Alfredo.

Sandra Rocha disse...

Fiquei encantada com o texto.
É a terra de minha mãe e um dia espero conhecer.
Sandrra