terça-feira, 12 de abril de 2011

In MEMORIAM DE JUDITE et alli

Foi com pesar que recebi a notícia da partida de Judite. Depois do primeiro choque mentalizei-me que partir faz parte da vida e assim o meu pensamento transferiu-se para a saudade. Recordei então alguns dos melhores momentos quando me reunia em sua casa com os meus amigos pré-adolescentes. Devo a minha formação, religiosa e moral, a duas senhoras da minha aldeia. Leonilde e Judite. O pai de Judite, António Pereira, mais conhecido por António Espanhol (não sei o porquê deste apelido) era uma pessoa de Bem e de rara cultura. Na aldeia era como um líder de opinião. Lia regularmente o jornal e divulgava as notícias entre a população pouco escolarizada. A sua casa era como um centro comunitário dos anos 50 e 60. Na altura a aldeia não tinha luz eléctrica nem água canalizada mas foi na casa de António Espanhol e Judite Pereira que se realizaram as primeiras projecções de vídeo no concelho, apresentadas com a energia de acumuladores.
Recordo-me ver em casa de Judite as projecções clássicas dos temas religiosos. Coisa admirável para os habitantes que viviam isolados. As vias e os meios de comunicação e a economia condicionavam o desenvolvimento, era pois necessário que alguém mais esclarecido ajudasse com informação e divulgação. Também na casa de Judite decorriam os melhores bailes, até que um dia decidiu dedicar-se às coisas comunitárias da Igreja. Esta alteração radical de conduta foi, segundo consta, por uma questão de amor não resolvida. Foi ainda no tempo do velhinho p.e Carlos que Judite começou a colaboração eclesial e comunitária.
Entretanto no início dos anos 60 foi substituído pelo p.e Donaciano, naturalmente de outra idade e formação religiosa, já com as missas em português em vez do velho latim e fazendo uso das novas tecnologias audiovisuais, cativando a comunidade, começando pelas pessoas mais disponíveis e altruístas. Foi o caso, entre outros, de Leonilde, Judite e Mariazinha. Das duas primeiras, recebi a formação religiosa e moral e de Mariazinha, que ainda está entre nós, recebia serviços de enfermagem gratuitos. Foram estes novos recursos humanos e tecnológicos e algumas novas teorias e práticas saídas do Concílio do Vaticano II que permitiram ao p.e Donaciano lançar-se num novo estilo de formação, de lazer e de animação a vários grupos etários.
Voltando à formação religiosa e moral fui, juntamente com os meus amigos, privilegiado com a dedicação de Judite. Depois das jornadas diárias ainda tinha tempo para receber um grupo de pré-adolescentes ao qual dava explicações sobre passagens bíblicas e moral, tal como seu pai fazia com a divulgação das notícias dos jornais à população interessada. Durante os anos 60 e até Junho de 2008 pude constatar que Judite foi um exemplo de bondade e entrega total ao próximo. Aqui deixo mais um muito obrigado póstumo em meu nome e dos meus amigos de infância e adolescência.

Texto de Alfredo Ramos

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