quarta-feira, 6 de abril de 2011

MUDANÇA E ESPERANÇA EM BESELGA-PENEDONO ? TERRAS DO DEMO?

Na década em que eu nasci, estava-se naturalmente fadado aos estudos máximos gratuitos que eram a 4ª classe. Havia uma excepção para aqueles cujos pais e/ou o pároco local orientavam para o Seminário. Poucos foram os que prosseguiram a via sacerdotal. Ao desistir da vocação continuavam, regra geral, os estudos no ensino público ou privado. Alcançados os 18 anos e alguns ainda menores como foi o meu caso, os rapazes seguiam para França “à fugida” por não lhes ser permitida a passagem de passaporte. Era política do Estado Novo reter a mão-de-obra em Portugal para suprir a débil economia interna e para engrossar as fileiras militares das Forças Armadas que haveriam de servir na metrópole e nos territórios ultramarinos que faziam parte do Estado e Nação portuguesa.
Nos anos 50 e antecedentes procurava-se na emigração, num qualquer ofício manual ou na actividade agrícola e pecuária o modo de vida. Ninguém adivinhava muitas mudanças que vieram a ocorrer. Nos anos 60`s foi introduzido o ensino do Ciclo Preparatório. O panorama estudantil começou a alterar-se mas a maioria dos jovens, rapazes e raparigas, ainda ficavam excluídos da possibilidade de adquirir habilitações para além do primeiro ciclo do ensino básico.
Nas décadas seguintes com o país democrático foi possível frequentar os estudos nas escolas locais, primeiro até à 6ª classe, depois até ao 9º ano mas a população nascida nas décadas anteriores aos anos 80 ficava em sua grande maioria excluída de prosseguir mais habilitações. A mudança acabou por chegar, “mais valendo tarde do que nunca” como reza o aforismo popular. Já nesta década dos anos 2000`s foram ministradas formações de adultos equivalentes ao 6º e 9º ano em muitas localidades do país, incluindo a aldeia/freguesia de Beselga, concelho de Penedono (1). E entre 2008 e 2010 está a decorrer na mesma aldeia o curso de Técnico de Recursos Florestais e Ambientais com equivalência ao 12º ano. É de notar que nem a sede do concelho tem o privilégio de ter na vila de Penedono este grau do ensino secundário.
A maioria dos formandos actuais neste curso nasceu na década de 50 e 60 e estava destinada, injustamente, a viver ab eterno com o primeiro ciclo do ensino básico sem nunca tocar num computador, abrir uma página de internet para informação pessoal, lazer e/ou investigação aplicada à formação. Há ainda a estudar na aldeia de Beselga outros estudantes mais novos, alguns dos quais nascidos em França, filhos de portugueses locais. O entusiasmo dos formandos tem-se revelado de tal ordem que, segundo informação no quinzenário “Progresso de Penedono”, uma das candidatas do curso já está a pensar no ensino superior. Não se prevê (por enquanto) que este nível venha a ter lugar na aldeia. Mas quem sabe! Outrora também ninguém pensaria que, alguma vez, fosse possível aqui funcionar o ensino secundário ao nível do 12º.
Graças à Associação Humanitária Cultural e Recreativa Beselguense, à Junta de Freguesia, à Paróquia e à Câmara Municipal cujos responsáveis souberam sugerir, captar e apoiar projectos para esta localidade do interior, incluindo a formação escolar para adultos. Espera-se, agora, que o futuro seja mais promissor para os formandos. Que os conhecimentos e os curriculae abram novas portas e se traduzam em novas funções, que a aldeia veja aparecer projectos de economia sustentável e amiga do ambiente. Inovar e mudar é preciso. Já o nosso poeta Luís Vaz de Camões no século XVI preconizava a mudança: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades …/… ”

Texto de Alfredo Ramos

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