sexta-feira, 15 de abril de 2011

O "FENÓMENO" DE ALBANO BEIRÃO! (Tudo isto aconteceu muito próximo da Beselga)









Doença continua por explicar
Albano, o "Homem-Macaco"


Albano Beirão era um homem invulgar. Tão invulgar que se tornou uma referência, uma lenda, um ponto turístico. Aveloso, uma pacata aldeia no concelho da Meda, foi o seu berço e, há quem duvide, é ali que repousa para sempre. Enquanto foi vivo pouco mais teve senão dissabores. Uma doença sem igual foi a sua distinção, um cognome o reconhecimento. Conheça a história do famoso "Homem-Macaco" que afinal era «bom e caridoso».

Corria o ano de 1882. Na serena aldeia de Aveloso, no concelho da Meda, nascia uma criança de nome Albano de Jesus Beirão, filho de um asturiano fugido de Espanha e de uma pobre rapariga do campo. Aparentemente nada o diferenciava das outras crianças, no entanto cedo se veio a desconfiar que o seu nome iria alterar para sempre a vivência daquela gente. À idade dos sete anos, tinha há pouco tempo entrado para a escola, Albano Beirão viu-se acometido de uns ataques que o deixavam sem conhecimento. Pulava, rebolava, subia às paredes e uivava desalmadamente. As pessoas começaram a receá-lo, fugiam mesmo dele. À escola não voltou porque os alunos não iam se ele por lá aparecesse e o professor seguiu o exemplo dos pupilos. Ficou-se por ali a sua vida escolar, mas também a sua paz e a oportunidade de ser uma criança igual às outras.

Frequentemente, cerca de duas vezes por dia, sofria de um ataque sem nome. As pessoas chamavam-lhe "o mal", "um espírito" que vivia nele. Lembram-se que «perdia peso e dava saltos enormes», era também dono de «uma força tremenda» e «os uivos estarreciam qualquer pessoa». Isto durou até à idade dos 50 anos, altura em que "o mal" desapareceu tão repentinamente quanto aparecera. A doença nunca foi explicada e a população ainda hoje não sabe de que sofria o "Albaninho". Sabe-se apenas que, depois de todo o país ter conhecimento do seu caso, e para estudar a sua doença, foi nomeada uma comissão científica que com ele correu toda a Europa. A comissão integrava três médicos, que o acompanharam aos principais focos de investigação científica como a Itália, Inglaterra, Alemanha, Rússia, Espanha, Bélgica e Suíça. Desta missão nunca se souberam os resultados, tendo permanecido no segredo dos deuses qual seria o "mal" que atormentava o então denominado "Homem-Macaco".

«Era um homem bom e caridoso»

Maria de Lurdes Ferreira, 56 anos, era «sobrinha em segundo grau» de Albano Beirão. Quando nasceu já o tio não sofria da doença desconhecida, mas assegura que conhece de cor as suas aventuras, a mãe deixou-lhe de herança as histórias.

«Havia muitas pessoas que tinham medo dele», recorda, «mas eu não, nunca me fez mal nenhum». Recorda-se que «às vezes pedia-lhe para fazer qualquer coisa para nós vermos», mas ele declinava afirmando que «agora já não, o Estado já me dá mais ou menos o que quero». No entanto diz que o ouviu dizer que «quando não tinha o que queria bastava pedir-lhes que eles davam-me, porque aquelas pessoas lá em Lisboa tinham medo de mim». Lembra-se também de ouvir contar que «foi uma ocasião para África mas deitaram-no do barco para fora», então, «passou as águas do mar por baixo de água até ao destino». Também foi em África que ele «conseguiu combater com os leões sem nunca ter um ferimento».

A sobrinha é mais uma das pessoas que não sabe explicar a razão porque o tio era acometido de tais ataques. «Aquilo era espírito ruim que andava com ele», afirma, «quando lhe dava aquilo não havia nada que ele não fizesse». Até contam uma história de ele andar aos coices numas bestas que estavam presas na Meda e de «subir ao pelourinho com a cabeça para baixo e pernas para cima e quando chegava lá em cima fazia um pino». «Não havia fenómeno como ele», assegura, «levantava-se só com roupa interior, em ceroulas, e nunca rompeu a roupa». E relata ainda outro feito do tio: «Havia ali um cabeço em cima a que chamávamos a Fonte Nova, que tinha covas de raposas, ele metia-se lá para dentro, tirava de lá as raposas e as crias e ficava lá sem medo nenhum». Depois, para sair é que já era um problema, quando os ataques terminavam. Nessas ocasiões, Albano Beirão não tinha outro remédio senão esperar que o "mal" regressasse, para ter coragem de sair e enfrentar as feras.

«No fundo era um homem bom e amigo da caridade que nunca fez mal a ninguém», afirma. A alcunha de "Homem-Macaco" diz que lhe foi "arranjada" em Lisboa, «porque aqui na província nunca o chamámos assim». O "Albaninho", como era conhecido nas redondezas, morreu em 1976, no Hospital da Guarda. A sobrinha tinha 37 anos e ainda se lembra bem da ocasião. «O caixão vinha selado e escorria muito sangue», recorda, «tenho cá para mim que ele não veio no corpo natural, porque ele sempre disse que tinha feito venda da cabeça aos alemães, para continuarem a estudá-lo».

Silvina de Almeida foi vizinha de Albano Beirão e é a pessoa que mais sabe sobre os feitos do "Homem-Macaco" enquanto este ainda sofria do "mal". «Ficava tal e qual um galgo, não conhecia ninguém, galopava e dava uivos que eram de estarrecer qualquer pessoa», recorda. Mas «era muito asseado». Quando lhe davam os ataques, «bebia toda a água que lhe dessem, em gamelas e baldes, limpa ou suja» e quando terminavam os ditos, «ele limpava-se todo, esmerava-se de baixo para cima». Silvina de Almeida lembra-se que a sua figura provocava receio nas pessoas, no entanto, «nunca ninguém se virou contra o homem, todos o respeitavam sobretudo com receio». A vizinha, depois, deixou de o ser quando foi para Coimbra estudar e no regresso já ele não tinha qualquer ataque.

Durante a sua ausência, Albano Beirão casou e teve duas filhas. «A primeira foi para um asilo em Lisboa onde morreu e a mulher fugiu e levou a outra filha». O Homem-Macaco «ficou completamente sozinho». Terá sido isto causado o fim dos ataques? Quem sabe?

Maria João Silva

1 comentário:

Franco disse...

hahaha , tudo isto aconteceu no Aveloso amigo , uma terra que existe desde a época pré-romana...muito próximo da Beselga porquê ? O Aveloso é menos conhecido do que a Beselga ?