sexta-feira, 4 de março de 2011

BESELGA (FREGUESIA)


A freguesia de Beselga situa-se no extremo sul do concelho de Penedono. É delimitada a norte pela sede do concelho, a leste pela freguesia de Antas, a ocidente pelo concelho vizinho de Sernancelhe e a sul pelo distrito da Guarda. O topónimo Beselga provém do latino Basilica. Aí se prestaria, muito provavelmente, culto a um antigo santo. A basílica do topónimo poderia também significar capela. Ao longo dos anos, muitos historiadores disseram que Beselga vinha de Bezulce, importante cidade romana, mas a realidade não o comprova. Cultura é o sinónimo de manifestação humana e inteligente, e que abarca todo o pulsar do homem. Terêncio, escritor e pensador romano, exprime todo o seu sentido, ao afirmar que "mihil humanum a me alienum puto": nada do que é humano me é alheio. Há aspectos culturais na dança, na música, no desporto, nas tradições, nas festas e até mesmo na vivência religiosa. É, por isso, importante e unificador a existência de focos de cultura, como os clubes, as associações e todos os centros capazes de criar unidade e interligação para os que, por várias razões, aqui se fixaram. É o caso do artesanato. E neste ponto, temos de deixar uma palavra para peças em junca ou croça. A junca é uma planta herbácea que se eleva verticalmente sobre o solo, junto aos rios, e que fornece um óleo essencial. Possibilita o fabrico de peças variadas, entre as quais as ceiras, os capachos e uma peça de vestuário usada sobretudo pelos agricultores e muito rara em Portugal, a croça. As croças eram capas ou casacões de junco ou de palha. Conhecidas também como palhoças, eram fabricadas exclusivamente nesta freguesia e abasteciam o distrito inteiro. «Alguns, de croças de palha centeia, hirsutos, parecem porcos espinhos. Vão para o trabalho e levam ao ombro a enxada ou a foice roçadoira; outros, sogas de bois; e os pastores, cajados, mantas, e surrões de pele de ovelha. Todos ostentam varapau para tornar o gado - para o que for preciso. As caras são fortes e toscas. Os olhos, negros de espanto. (Antero de Figueiredo, «Jornadas em Portugal») É também o caso das colectividades. A Associação Humanitária Cultural e Recreativa Belseguense promove o convívio entre o meio ambiente e diferentes gerações com caminhadas, jogos tradicionais, jogos radicais e, principalmente, no Bicicleta Todo-o-Terreno, mais conhecido por BTT. São centenas os concorrentes de todas as partes do país que anualmente se deslocam a esta região graças à Associação Beselguense. Eis uma explicação breve dos antecedentes da sua fundação: «Desde há muito que a Beselga era conhecida como uma aldeia bairrista. Com a chegada do Sr. Padre Donaciano, nos finais da década de 50, as actividades não só religiosas mas também as humanitárias, culturais e desportivas foram dinamizadas pela Igreja. A participação em procissões na Lapa, os magustos da catequese, os jogos de solteiros e casados, os peditórios para a Igreja, para a Capela ou mesmo para obras (como a reconstrução da ponte da Devesa em 1967) eram liderados pelo Sr. Padre Donaciano e em que sobressaem com naturalidade a Sras. Leonilde, Mariazinha, Judite, Cecília...bem como uma meia dúzia de seminaristas da aldeia. Os peditórios de Janeiras e dos Reis nessa altura eram uma fonte de receita significativa para as actividades da aldeia.» (Mário Lourenço) O Grupo Desportivo e Cultural Os Ceireiros, fundado em 2005, tem como principais actividades a participação no campeonato distrital de Viseu, primeira divisão, e a missão de preservar e dinamizar o artesanato local, baseado na produção de peças em junca. É ainda o caso das lendas, que reflectem muito do imaginário das gentes locais. Numa dessas lendas, havia um frade que vivia num convento próximo de Fonte Arcada e ia a Beselga celebrar missa. Na freguesia, existiam dois cálices de ouro, um dos quais foi levado para o convento pelo frade. Este, de consciência pesada, quis devolvê-lo. Decidiu então combinar com os mordomos da festa dessa época irem ter com a Comissão de Festas dessa outra freguesia. A meio do caminho, no Quintinho, receberam a imagem do Divino Senhor dos Passos e colocaram-no na Capela, onde ainda se encontra hoje. Nessa altura, foi bordada uma toalha com os nomes das pessoas que pertenciam a essa Comissão, mas esta está enterrada no lugar onde está hoje a Capela, sem que ninguém saiba quais são efectivamente os nomes daqueles que conseguiram devolver a Beselga o que era m seu por direito. Uma outra lenda diz que as pessoas da freguesia costumavam dizer que, desde que a imagem do Senhor dos Passos foi para a respectiva Capela, nunca mais as trovoadas provocaram os estragos que antes se verificavam nas culturas e nas casas da aldeia, porque logo que as grandes nuvens negras, ameaçadoras de tragédias, se aproximavam de Beselga, paravam nos seus limites e voltavam para trás. Afastavam-se em círculo sem fazerem quaisquer estragos. Não é por acaso que o Divino Senhor dos Passos é tão adorado por estas paragens. Todos os anos, no primeiro Domingo de Setembro, a população sai à rua para dar graças ao Senhor. Vem gente de toda a área do concelho. No que diz respeito ao património edificado, uma primeira palavra para o património religioso: Igreja Paroquial de Santa Cruz, Capela do Senhor dos Passos e Cruzeiros. Destes, saliência para aquele que se encontra na Praça Padre Carlos Rodrigues. Trata-se de um cruzeiro com dois degraus, uma base quadrangular simples e um fuste encimado por uma cruz. C No «Guia de Portugal», de meados do século passado, Sant’Anna Dionísio faz uma descrição breve e curiosa de Beselga e das suas redondezas: «De Penedono a Sernancelhe – Não querendo regressar a Vila da Ponte pela mesma via, o visitante de Penedono poderá voltar à estrada nacional por Sernancelhe. Tem, para o efeito, a estrada municipal que flanqueia o cerro penhascoso e árido de Serigo. Estrada, aliás, igualmente estreita e escabrosa. Segue-se pelo alto até à bifurcação para Antas. Desolação e grandeza. Vê-se, ao fundo, a Estrela e o Caramulo. Em baixo, a veiga que sustenta Biselga, aldeia pobre. Depois, Salzeda.»


Área: 1519 ha
População: 350 habitantes
Presidente: João Pedro do Nascimento Ferreira
Secretário: Angelina Maria Leitão Diogo Ferreira
Tesoureiro: David Miguel Fonseca Augusto
Património cultural edificado: Igreja Matriz; Capela do Divino Sr. dos Passos; Capela de Sta. Luzia; Diversos cruzeiros; Nicho de Na. Sra. dos Caminhos; Edifício sede da Junta; Casa do Artesanato no edifício antigo da Junta; Lar de Santa Cruz com centro de dia e de noite; Duas escolas primárias (desactivadas); Duas salas da pré-primária (desactivadas); Antiga cantina escolar (desactivada); Barragem da Dama; Ponte romana; Fontes antigas; Capela mortuária.
Património Paisagístico: Barragem da Dama; Ponte romana; Capela do Divino Sr. dos Passos com as suas vistas panorâmicas.
Festas e Romarias: Festa ao Divino Sr. dos Passos no 1º fim de semana de Setembro.
Gastronomia: Cabrito e borrego assado no forno; Filhoses; Rabanadas; Cavacas.
Locais de lazer: Zona envolvente da Capela do Divino Sr. dos Passos; Zona envolvente do adro da Igreja Matriz.
Espaços lúdicos: Poli-desportivo; Campo de futebol de onze; Espaço internet na Associação Humanitária Cultural Recreativa Beselguense.
Artesanato: Trabalhos em junça.
Orago: Santa Cruz
Principais actividades económicas: Construção Civil; Agricultura de subsistência; Cafés; Comércio; Restaurante; Pastorícia.
Colectividades: Grupo Cultural e Desportivo "Os Ceireiros"; Associação Humanitária Cultural Recreativa Beselguense; Associação dos Regantes.

1 comentário:

Alfredo Ramos Anciães disse...

Interessante descrição com lendas e um apanhado do património edificado, cultural e associativo.

Parabéns.